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sábado, 20 de fevereiro de 2010

O Anjo Caído

Um dos entraves mais antigos para a evolução do homem, o obscurantismo atravessa séculos e chega à idade moderna ignorando a ciência

A atitude obscurantista caracteriza-se pela não utilização da razão na busca de soluções para os problemas humanos. Intolerância, radicalismo, preconceito, esoterismo, fundamentalismo, isolacionismo são apenas algumas das inúmeras consequências geradas pelo movimento obscurantista no mundo ainda hoje. O cristianismo, judaísmo e islamismo são hoje as correntes religiosas mais importantes, não apenas pelo número de fiéis e seu papel na história do homem, mas também pelo grau de influência que ainda exercem na formação espiritual e religiosa no planeta. Lamentavelmente, na filosofia de cada uma delas ainda se encontram elementos de intolerância, radicalismo e preconceito, numa mistura de devoção espiritual e ódio secular.

Muitos autores sofreram consequências da intolerância deflagrada da Antiguidade até os dias atuais. Galileu Galilei, Salman Rushdie, Albert Eisntein, Martinho Lutero, Allan Kardec, Nostradamus, Voltaire e Dante são apenas alguns nomes conhecidos entre centenas de milhares que viveram o viéis obscurantista: queima de livros, Inquisição, Index, perseguição e morte em nome de Deus, Godshand murder.

Numa época de avanços tecnológicos e científicos, liberdade de expressão e globalização, tais correntes perecem evidenciar a dificuldade de alcançar uma coexistência pacífica e respeitosa. Claro que a intolerância religiosa pode se manifestar em qualquer indivíduo, de qualquer religião, mas essas grandes religiões têm sido dominantes ao longo dos últimos séculos, demonstrando uma prática religiosa insidiosa e violenta. De certo, o Catolicismo de hoje não traz a mesma veia obscurantista, em sua essência, de períodos históricos mais antigos, mas o lastro inquisidor provocou cicatrizes indeléveis na História do Homem.

John Locke (1632-1704), filósofo empirista inglês e precursor do Iluminismo, escreveu, "não é a diversidade de opiniões o que não pode ser evitado, mas a recusa de tolerância para com os que têm opiniões diferentes." A contribuição dos iluministas para a humanidade é imensurável na mesma medida em que um futuro promissor por meio dos avanços da tecnológia e da ciência ainda passa longe de uma realidade espiritual hígida. Mas não podemos ignorar o legado iluminista de abertismo e racionalidade.

Para Voltaire (1694-1778), um dos ícones iluministas, perseguido e autor de obras condenadas, a intolerância religiosa tem como principal fundamento a busca pelo poder, na imposição da religião que quer ser dominante. "É incontestável que os cristãos quisessem que a sua religião fosse a dominante. Na tentativa de fazer toda a Terra ser cristã, eles ficaram contra toda a Terra." Sobre esse caráter belicoso do cristianismo, o filósofo inglês, lógico, matemático e Prêmio Nobel de Literatura de 1950, Bertrand Russell (1872-1970), escreveu, "é um completo mistério para mim que haja pessoas aparentemente lúcidas que pensem que a fé no cristianismo possa evitar a guerra. Tais pessoas dão a impressão de serem totalmente incapazes de compreender a História."

Do tempo de Constantino (e do Estado romano) até hoje, jamais houve um vislumbre de evidência de que os Estados cristãos sejam menos belicosos que os demais. O Estado romano tornou-se cristão ao tempo de Constantino e esteve continuamente em guerra até deixar de exisitir. Os Estados cristãos que o sucederam continuaram a se bater mutuamente e a enfrentar Estados que não eram cristãos. Quando surgiu no sul da França uma seita conhecida como catarismo, na época de Inocêncio III, e cujos adeptos negavam a autoridade do papa, a resposta da monarquia e do clero foi com fúria e desafio avassalador.

Em 1209, Inocêncio III convocou uma guerra santa contra a "seita maldita" e queimou com seu exército aldeias e multidões. Para terminar de vez com o que sobrou, Gregório IX, sucessor de Inocêncio III, criou em 1233 a Santa Inquisição, um Tribunal com a incumbência de tocar o terror com atraso e obscurantismo contra todos que divergissem da Igreja Católica. Centenas foram submetidos a julgamentos arbitrários e interrogatórios impiedosos, durante os quais se torturava para que confessassem seus "crimes." Condenados, eram levados para a fogueira e queimados em ato público. Segundo Heinrich Heine (1797-1856) "aqueles que queimavam livros, queimavam humanos" em nome do Senhor.

A oposição à liberdade de expressão foi sempre utilizada pelas religiões dominantes para proteger seus dogmas e defender seus interesses de poder e hegemonia. O horror disseminado pela perseguição do Santo Ofício, deixou um rastro de vergonha e indignação na história da humanidade, culminando no Holocausto de Adolf Hitler e o Nazismo. O escritor português José Saramago diz que, "ao matar em nome de Deus, transforma-se Deus em um assassino." Deus torna-se assim inquisidor, perseguidor e intolerante. A intolerância religiosa ainda é um grande desafio para a humanidade. Movimentos neo-nazistas ganham força na Europa, a guerra entre árabes-mulçumanos e judeus nunca viveu uma trégua confiável, a Igreja Católica ainda hoje dá as costas para a ciência, sendo contra as pesquisas com as células-tronco embrionárias, e mostra seu preconceituosa contra homossexuais, os direitos das mulheres, o uso da camisinha e o aborto, além de colecionar casos de pedofilia nunca explicados e muito menos julgados.

A condição humana segue atrelada à luta pelo poder, ao individualismo, à intolerância, ao uso da guerra em suas disputas e não mostra avanços humanitários que nos permitam visualizar uma época futura em que a paz enfim tome o seu devido lugar no espírito humano. Tudo isso deixa no ar uma pergunta essencial: quem irá deixar de atirar a primeira pedra ?

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