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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Fardo da Beatificação

Algumas figuras no cenário político brasileiro tiveram ao longo da história um respaldo popular tão fiel que se eternizaram não apenas por suas conquistas governamentais, mas, sobretudo, pelos benefícios da condição de mito criado em torno dos seus nomes. 


De Getúlio Vargas a Lula, a construção do mito pela devoção popular gerou, entretanto, mais equívocos e engodos do que mártires ilibados. Em presidentes como Jânio Quadros e Collor de Mello, por exemplo, vê-se a construção equivocada do mito ou santo. Essa vulnerabilidade herdada da religião e aplicada na política é uma crença de risco e coloca, às vesperas de mais uma eleição nacional, a questão filosófica do homem na busca perene por um salvador. Não seria exagerado comparar tal devoção àquela que se tem por ditadores como Fidel Castro de Cuba e Kim Jong il da Coréia do Norte, ou mesmo por aspirantes à ditadura como Hugo Chávez da Venezuela, em que o respeito passa a ser adoração. Afinal de contas, eles são governantes onipotentes e onipresentes, que paternizam com mão de ferro uma prole que precisa incontinenti das ordens de um comandante para caminhar, posto que ainda é incapaz de pensar sem o julgo de um líder absoluto. Talvez política e religião tenham aqui o seu ponto de confluência, uma vez que a síndrome do divino se revela na política com a mesma dependência beatifícia dos fiéis seguidores, criando, assim, para esses políticos, o papel de intercessor com o criador.

Os créditos conquistados com algumas benfeitorias populares pontuais são indeléveis para os comandados amauróticos. A massa crítica padece diante das promessas políticas na falta de uma atualização da imagem e em detrimento da postura de se buscar o melhor para todos. Mas sejamos sensatos: não podemos esperar do outro aquilo que o outro não pode nos dar. Enquanto a vulnerabilidade humana, que ainda anseia por vantagens individuais, descaracteriza o coletivo e reparte a humanidade em fragmentos conscienciais, só nos resta respeitar os limites generalizados e procurar fazer a nossa parte para o coletivo: ensinando e compartilhando ideias. Contudo, a tentativa de investigar a raiz de tal devoção na política pode gerar massa crítica em âmbito coletivo. Questionar a razão que faz a maioria do povo brasileiro tomar por divina a imagem de um presidente e ser fiel não apenas ao seu caudilho, mas a todo e qualquer um que este endorse seu apoio é um desafio construtivo. Afinal de contas, temos que nos preparar psicologicamente para uma era de governo do avatar do Lula, Dilma Rousseff.

Em época de eleição, na mesma medida em que a devoção popular por seus mitos e santos se fortalece diante dos arroubos dos palanques, nos cultos acalorados dos comícios, os políticos se empenham em chacoalhar a borra no fundo do copo do outro e a imprensa corre desesperadamente para alertar à população a não confundir essa borra com polpa de fruta. A recente história de Erenice Guerra é uma evidência disso. Erenice escalou o topo da República, levada pela mão de Dilma Rousseff, saindo da obscuridade numa diligência impensável. Não tardou muito e foi agraciada com o posto de fiel escuderia de Dilma. Ao tornar-se uma seguidora leal, absorveu prontamente o seu modus operandi e montou ela mesma o dossiê FHC na Casa Civil. Ainda sob as deconfianças de funcionária suspeita, passou ao posto de ministra, encarnando uma representação inconteste de Dilma Rousseff.

Porém, apesar de todo o escândalo há poucos dias revelado, dando conta de que um sócio do filho de Erenice achou R$ 200 mil em dinheiro em seu gabinete na Casa Civil e mesmo depois que a imprensa espalhou a notícia de que o marido de Erenice era diretor de uma empresa que ganhou o aval do governo para disputar e ganhar um negócio de R$ 100 milhões na telefonia celular, apesar do governo ter atestado que a empresa dele não tinha estrutura para o negócio, o povo continua achando que Erenice é apenas uma boa mãe e esposa fiel, deixando Dilma ilesa diante de toda essas maledicências políticas inaceitáveis. O caso de Erenice não deveria causar na opinião pública ao menos um minuto de reflexão? Parece que não, uma vez que o nosso presidente-pastor disse dias atrás, num comício petista em Campinas, que "nós (do governo) somos a opinião pública."Impressionante.

Mas como todo e bom santo sofre de vicissitudes no irremediável restringimento físico, o presidente não foge à regra. Com 84% de popularidade, segundo às últimas pesquisas de opinião, a frase do presidente não parece um desvario (será que nessas pesquisas os votos brancos e nulos contam a favor do governo?). Bem, não vamos tornar a nossa análise mais complexa do que ela já parece ser. Restam apenas 16% da população para dar ao presidente uma condição de santidade maior do que a teve e ainda tem Jesus Cristo para seus fiéis seguidores cristãos há 2010 anos! - posto que Jesus não conseguiu, ao longo desse tempo, conquistar a unanimidade. Parece inacreditável que, aos olhos do povo, essa popularidade lulista só tenha subido ao longo dos últimos anos. A conclusão desafortunada desta triste reflexão é a de que as únicas reformas imperativas e urgentes parecem longe de acontecer, pois elas nada mais são do que as reformas de caráter por parte dos políticos e de lucidez e discernimento por parte da população.

Ao escolhermos os nossos governantes não podemos endorsar a esperteza e o sucesso a qualquer custo, apoiar aqueles que destestam o trabalho social, que buscam o acesso ao patrimônio público para proveito pessoal, que almejam os cabides de emprego e os cargos fantasmas, que criam infindáveis dinastias nos cargos públicos, que valorizam a justiça só quando a justiça lhes é vantajosa, que só reclamam dos privilégios quando não estão incluídos entre os privilegiados, que enriquecem através dos negócios sujos com o Estado, que vendem seus votos por uma camiseta, uma dentadura ou o benefício do bolsa família, que são incapazes de refletir, comover-se e indignar-se diante das infâmias cometidas contra aqueles que realmente precisam do apoio do Estado na saúde, na educação e na segurança, que é a camada mais pobre e humanamente dependente dos órgãos federais. Não há contra-indicações no ato de refletir. A atitude de cada um em benefício de todos é assistencialidade na prática em alto nível.

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